actual, padecida por muitas/os ignorada por outras/os, de um território
nacional, o galego. A eterna reivindicaçom esquecida do nacionalismo, a
territorialidade.
Falamos de (conforme o último censo): 186.561 pessoas e de um território
de 6.447 km2, ou dito de outra maneira: 6,4% da populaçom galega e
17,2% do território. Quer dizer, 6 em cada 100 galegas ou galegos vivem
sob administraçom asturiana ou castelhano-leonesa.
A respeito dos núcleos de povoaçom, em primeiro lugar há que destacar
Ponferrada, área urbana de 70.000 habitantes, mas também vilas grandes
como Bembibre, Návia ou Faveiro. Também um grande número de vilas
médias que albergariam a maioria da populaçom, enquanto o resto se
reparte em núcleos rurais que, como no conjunto da Galiza, padecêrom e
estám a padecer a despovoaçom.
Descrevendo território por território, temos as seguintes características:
Sob administraçom asturiana (1.939,4 Km2, 44.174 hab.):
- O território denominado Terra Návia-Eu: A grandes traços,
corresponde-se com as bacias dos rios Eu e Návia e o vale do rio Íbias a
Sul. Geograficamente, a sua zona costeira fai parte da regiom da Marinha
e o interior da regiom de Montanha do Leste do país (Burom, Ancares).
Este território é dividido em 18 concelhos e as freguesias orientais do
concelho de Pola de Alhande, o antigo concelho de Verduzedo.
Toda a área é de fala galego-portuguesa, observando nas áreas limítrofes
dialectos já mais próximos do asturiano. As comarcas naturais e
económicas em que se divide o território som:
· Íbias, comarca montanhosa que corresponde com o vale do rio Íbias, e
delimitada com as Astúrias por montanhas e portos que superam os 1.800
metros. As vilas que gerem a actividade económica desta pequena
comarca som Santo Antolim, Deganha e Cerredo.
· Alto Návia, comarca do vale médio do rio Návia e que tem como vila
mais importante Grandas de Salime.
· Oscos, pequena comarca natural, enclave entre as bacias dos dous rios.
· Baixo Návia, área mais oriental da regiom marinhá, vale baixo do rio
Návia e como centro económico a vila homónima.
· O resto do território, as freguesias dos concelhos de Tápia, Castro Pol,
Veiga e Sam Tisso de Avres fam parte, junto do resto do vale do rio Eu
pertencente à CAG, da comarca homónima que, apesar das fronteiras
administrativas, tem como centro ecomómico principal Ribadeu.
Sob administraçom castelhano-leonesa (4.508 km2, 142.414 hab.):
Na província de Leom:
-Bierzo. Administrativamente dentro da província de Leom, encontra-se a
regiom denominada o Berzo, área muito bem definida a nível territorial e
sócio-económico e que conta com um organismo administrativoinstitucional
próprio para os seus 40 municípios por causa da sua
singularidade, o Conselho Comarcal do Bierzo. O território berziano, como
área de transiçom, tem características culturais da área leonesa, mas
umha marcada identidade galega por causa de ser a sua antiga capital,
Vila Franca, da área galegófona, por pertencerem durante séculos estas
terras à Casa de Lemos, por motivos geográficos, etc. Geograficamente, a
comarca é um anfiteatro montanhoso com a grande veiga do rio Sil e os
vales dos seus afluentes. As comarcas naturais nas quais é divisível o
Bierzo, correspondem-se principalmente com os vales destes rios e a
existência de umha vila importante na área:
· Valcarce, vale do rio Valcarce e área mais oriental da serra dos Ancares.
Esta comarca tem umha profunda identidade lingüística e cultural galega.
A sua capital é Vila Franca, a pequena Compostela, como é chamada, e
capital histórica e cultural do Bierzo.
· O Cua tem em comum com a anterior a grande parte do seu território
localizada nos Ancares, mas caracteriza-se por ser umha das áreas
mineiras mais importantes. Os dialectos destes territórios som galegoportugueses
com influências leonesas nas áreas mais baixas e na capital,
Faveiro.
· Ribas do Sil. Esta área é a do curso mais alto do Sil no nosso território
nacional e corresponde-se com a divisom eclesiástica do mesmo nome. A
língua desta comarca, apesar da forte castelhanizaçom, conserva traços
de um dialecto de transiçom do galego-português ao asturiano-leonês
com mais traços deste segundo e muito relacionado com o próprio
mirandês. A vila mais importante desta área é Toreno.
· Boeça. O vale do rio Boeça é a comarca mais oriental do nosso país.
Principal área mineira, o Bierzo Alto, como também é chamado,
pertencente ao antigo domínio lingüístico leonês, sofreu umha total
aculturaçom (castelhanizaçom). A capital da comarca é Bembibre, centro
urbano de 10.000 habitantes.
· Bierzo Baixo. Esta é a regiom de Ponferrada, cidade capital de toda
actividade económica da regiom. Esta área é umha área completa de
transiçom entre os domínios lingüísticos galego-português e antigo
leonês. O paradigma disto é a cidade que se encontra no centro da
isoglossa e que concentra populaçom rural procendente das duas áreas.
- Cabreira. Esta comarca corresponde-se com umha zona montanhosa
muito deprimida e pouco povoada e o vale do rio homónimo, em cuja foz se
encontra a capital, a Ponte. O vale baixo do rio (Município da Ponte) é
nitidamente galego a nível lingüístico e cultural, para encontrarmos
dialectos de transiçom ou leoneses (chamados cabreirês) nos cursos
médio e alto. Aliás, a comarca, que centra a sua actividade económica na
lousa, tem umha importante relaçom com Valdeorras já que o Barco fica a
12 Km frente aos 35 de Ponferrada.
Na província de Samora:
A área mais ocidental desta província castelhano-leonesa tem
historicamente, e por razons geográficas, umha maior relaçom com as
comarcas limítrofes da Comunidade Autónoma Galega. É umha zona em
que a fronteira entre os antigos reinos (Galiza, Leom e Portugal) era, como
no Berzo, muito difusa até épocas tardias. Isto provoca que hoje existam
na comarca dialectos pertencentes ao domínio lingüístico galegoportuguês,
tanto à variante galega como à portuguesa. Os leoneses
perdêrom-se pola forte pressom do espanhol. Podem fazer-se duas
divisons principais:
· Portelas, a área mais montanhosa e limítrofe com a Galiza
administrativa, é do ponto de vista cultural nitidamente galegoportuguesa.
· Seabra, (normalmente as Portelas som incluídas nesta comarca)
território de total transiçom entre a Galiza e a meseta, facto que se reflecte
culturalmente. Além do mais, é nela que se encontra a vila de pouco mais
de 1.000 habitantes que funciona como centro económico, Póvoa de
Seabra.
CRITÉRIOS NA DELIMITAÇOM DO TERRITÓRIO
Umha vez feita a descriçom dos territórios, é necessário colocar os
critérios que se utilizam para defini-los como pertencente ao território
nacional da Galiza e as suas e os seus habitantes como galegas e galegos.
Vontade:
Em primeiro lugar, é mister colocar como principal critério, o
qual na sua ausência anularia qualquer outro que se colocar, a própria
vontade da populaçom desses territórios a decidirem livremente fazer
parte do povo galego, a se considerarem galegas e galegos.
Língua:
Um critério colocado como imprescindível quando abordamos o
tema da territorialidade é sempre a língua. A este respeito, é necessário
fazer umhas aclaraçons para colocarmos a língua como elemento fulcral,
mas sob uns parámetros determinados.
O território que chamamos Galiza Irredenta nom é totalmente galegófono.
Além de existirem áreas onde sobrevivem dialectos leoneses, a pressom
que o espanhol exerceu durante os último cinco séculos foi maior nuns
territórios em que a própria existência da língua galego-portuguesa é
negada, sem qualquer tipo de promoçom e utilizaçom institucional, sem
presença na educaçom, etc. Apesar disto, a língua é critério fundamental
porque mais de 60% desse território e 77% da populaçom fica dentro do
domínio lingüístico galego-português. A reivindicaçom lingüística é a
reivindicaçom galeguista com mais força nestas terras, e focalizada, como
no caso do Berzo, em Ponferrada, lugar nom pertencente estritamente ao
território galegófono, mas onde o galego já é disciplina opcional em várias
escolas. Além disto, há um sentimento de galeguidade em todo o território
(galegófono ou nom), em contraposiçom ao castelhano.
Razons geográficas e naturais:
Todo o território que chamamos Galiza Irredenta tem como característica
comum ser a sua terra mais parecida com a das zonas limítrofes da CAG do
que com as próprias comunidades autónomas às quais pertencem. Isto
tem levado a colocar ridículos apelativos como “anticipo castellano de
Galicia” ao Berzo, por exemplo. Esta identidade geográfica e natural é
clara se atendermos aos sistemas montanhosos que separam estas
comarcas da Meseta ou às bacias dos principais rios. Situaçom grotesca
tenhem de sofrer as crianças berzianas na escola quando estudam todos
os afluentes do Douro e Pisuerga e quase nem recebem informaçom sobre
o peculiar do “oeste da província de Leom”, que nom só tem um clima mais
húmido, como os seus rios pertencem à bacia Sil-Minho.
Razons sócio-económicas:
O meio natural e a história tenhem
condicionado que, para a actividade sócio-económica, essa fronteira
artificial nom existisse. Assim, vemos como nas comarcas do Eu-Návia os
intercámbios de um lado e o outro som constantes; isto, porque os vales
dos rios galegos nom som linhas divisórias, e sim meios dinamizadores da
vida humana. Ou o caso do Berzo e Valdeorras, umha autêntica regiom
sócio-económica que tem como centro a cidade de Ponferrada.
Diariamente, valdeorreses/as, berzianos/as e marinhaos/ás de um lado e
o outro do Eu transgridem a raia para irem ao trabalho, para fazerem
compras, para o tempo de lazer,etc.
Brutal é esta divisom administrativa vigente quando um habitante da
comarca da Cabreira tem que fazer 40 km para ir ao hospital ou para
cursar o ensino secundário, a Ponferrada, quando os mais cercanos estám
a tam só 15 km, no Barco de Valdeorras.
Cultura. E é ainda na cultura que os traços comuns som evidentes: a
gastronomia, a música tradicional, a literatura oral, a arquitectura
tradicional, as tradiçons, as lendas..., nom reconhecem estas fronteiras.
REFLEXONS GERAIS E PERSPECTIVA HISTÓRICA
A Galiza sofreu ao longo dos anos, dos séculos, as decisons políticas
centralistas, irracionais e desgaleguizadoras dumha administraçom
espanhola que sempre olhou com preocupaçom para a existência dumha
Galiza que se afigurava grande de mais. A Galiza foi assim encurtada
territorialmente, no intuito nom só de domá-la e castrá-la (na acertada
expressom sempre usada), mas também de reduzi-la na sua extensom
geográfica e humana. Viu assim a Galiza como terras, comarcas, aldeias,
lugares e, sobretodo, pessoas, homens e mulheres, perdiam oficialmente
o seu carácter de “galeg@s”, pretendendo negar (mas sem o conseguir
totalmente, como demonstra a persistência no presente de diversos e
variados redutos de resistência galeguista nestes territórios) a sua
identidade e a sua unidade com a naçom.
O mais grave, contodo, é que, se bem no período anterior à ditadura
franquista, e mesmo durante a mesma, praticamente todas as correntes
do nacionalismo-galeguismo continuavam a reivindicar, consoante a
tradiçom histórica, a galeguidade destas terras orientais, negando
legitimidade e validez à divisom administrativa provincial de Javier de
Burgos de 1833, o período posterior ao franquismo, o da restauraçom
borbónica, conhecerá um cada vez maior acatamento das correntes
maioritárias do nacionalismo à mesma divisom administrativa de Burgos,
que a Constituiçom espanhola de 1978 consolida, acatando também a
divisom autonómica que hoje conhecemos. Com o passar dos anos, depois
dum primeiro período inicial em que houvo algumhas iniciativas, o
nacionalismo maioritário foi apagando, nas suas reivindicaçons, nas suas
actividades e pronunciamentos, nos seus textos, nas suas publicaçons,
nos seus meios de comunicaçom e órgaos de expressom, a reivindicaçom
territorial. Com diversos argumentos (falta de oportunidades, existência
doutras prioridades, evitar acusaçons de nacionalismo “imperialista”,
“agressor”, etc.), foi-se acatando a legalidade vigente também neste
aspecto, até abandoar por completo o tema para conseguir, com estas e
outras renúncias, fazer parte do selecto clube das organizaçons
“democráticas”, “constitucionais”, “respeitosas com o actual quadro
jurídico-político”.
O silêncio actual do nacionalismo maioritário contrasta com o abundante
tratamento do tema que tinha o nacionalismo anterior a 1936 (da
Geraçom Nós ao Partido Galeguista, dos arredistas da diáspora CRAG de
Fuco Gomes em Havana, ou a Sociedade Nazonalista Pondal na Argentina-
, até a representaçom galega no IX Congresso das Nacionalidades
Europeias1, ou os numerosos textos, artigos e resenhas recolhidos em
diversos órgaos e publicaçons: A Nosa Terra, Nós, A Fouce,... e em
numerosas obras de diversos autores da época.